Procuro por onde Tatiana Pequeno pode tocar o terror com este volume de sua escrita mais recente.
Os seus versos contam histórias de todas nós: moças para sempre atrapalhadas na primeira comunhão, o noivo deixado em Belford Roxo que recomendava dieta e cirurgia no nariz, a lembrança da avó e do pai mortos, os dias intermináveis de coluna travada, a certeza de um rim estropiado e um casamento no cartório que, com vestidos e flores, vai trazer a medida da alegria.
Histórias de todas nós num país que mais se parece um instrumento de moer: para organizar a casa, há de enfrentar a fábrica e sua gente que grita em reuniões sem que ninguém se preocupe em impedi-las, sob a fisiologia dos golpes e a visão do cemitério aberto através da câmera. Não à toa ela dedica este livro aos sobreviventes.
Procuro, e encontro um corpo de poemas que já se tornou mais herbário que herança, como ela tanto quis. A sua coleção de cenas é tão pungente, de dor aguda e uma sinceridade que desconcerta. E há a beleza de observar a vida por um olhar que, se não atende às expectativas de um mundo de medíocres conformidades, concebe uma linguagem única, de poeta de primeira grandeza.
Joselia Aguiar
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