Se eu fosse / bicho / seria / cabra velha / montanhesa / fuçando / na escalada / a planta / de suculenta / assim viver / morrendo / de sedes / e saudades. / Meu país / não tem saída / para o mar. – Marcia Vinci
Nesse terceiro livro da poeta, meu país não tem saída para o mar, os poemas de Marcia Vinci são espécies de apontamentos que se movimentam para os desvios do momento presente. Os poemas da obra também dialogam de forma sutil e fresca com os trabalhos anteriores da autora, funâmbula (2019) e poemas do sim e do não – o seu livro de estreia publicada em 2017 quando a poeta tinha 85 anos.
Em meu país não tem saída para o mar, a escrita de Marcia nos sinaliza um mundo em rápida mudança no século 21 com possibilidades poéticas em sintonia precisa com poéticas que vieram antes, em uma voz e linguagem singulares convidativas para novos olhares, como aponta a bela apresentação assinada pelo poeta Leonardo Gandolfi:
“(…) Xô, capeta!”, diz Vinci, junto de Rosa, a esconjurar o que for preciso daí para frente. Noutro momento, a autora se reconhece em João Cabral (sobretudo a partir de uma relação material e autorreflexiva com o poema), mas também se distancia dele, na medida em que revela uma dimensão aurática estranha à poesia do pernambucano, dimensão reconhecível na mineirice profanadora de uma Adélia Prado ou um Farnese de Andrade. Mais à frente, ainda ouvimos: “a casa / ruiu / sob o peso / de tanta / felicidade”, “acabou-se / o desjejum / da família / margarina”. Sim, versos que, ao apelarem à nossa memória publicitária, vão nos mostrar que a necropolítica de agora não nasceu ontem, nem anteontem: ela tem raízes. (…)” – Leonardo Gandolfi
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Sobre a autora
Marcia Vinci nasceu em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 1933, e vive em São Paulo desde 1951. É autora dos livros Poemas do sim e do não (paraLeLo13S, 2017) e Funâmbula (paraLeLo13S, 2019). Estudou Letras Neolatinas na Universidade de São Paulo e trabalhou na rede pública de ensino como professora de português e francês.
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