Divisão interna e experiências místicas.
O romance nasce do encontro entre Gallardo e um personagem real, um nativo da etnia wichí a quem ela entrevista em 1968 para sua coluna na revista Confirmado.
A partir de 1916, instalaram-se no Chaco Argentino missões protestantes nórdicas com o objetivo de “civilizar” os indígenas da região (Qom, Wichí, entre outras etnias) e convertê-los à fé cristã. Eisejuaz foi um líder indígena religioso e político, incorporado a um grupo missionário de origem norueguesa entre 1960 e 1980, em Embarcación, província de Salta. Após entrevistá-lo, Sara Gallardo se inspirou em sua fala lacônica, poética e gramaticalmente alterada para escrever o monólogo de um indígena entre dois mundos: a cultura wichí, na qual nasceu Eisejuaz, e a dos brancos cristãos, em que foi batizado de Lisandro Vega.
Dividida em nove capítulos, a narrativa está centrada nas experiências místicas desse homem que, ao sentir um estranho chamado divino, rompe com os ensinamentos da missão protestante que o evangelizou para seguir um caminho errático e solitário em busca de sua própria santidade. Abandonado por seu povo, pelo missionário e mesmo pelo Senhor, que não responde a seus apelos e o condena a um silêncio atroz, Eisejuaz é relegado à mais absoluta marginalidade, tornando-se, afinal, um estrangeiro em sua própria terra. “Um animal demasiado solitário devora a si mesmo”, diz uma das frases centrais do livro.
Espécie de hagiografia narrada ora em primeira, ora em terceira pessoa, o livro apresenta a narrativa de um homem com múltipla identidade – “Lisandro Vega”, “Eisejuaz”, “Este Também”, “Água Que Corre” – e interlocutores de diversas naturezas, como árvores, lagartixas, pássaros e outros seres da mata. Eisejuaz é uma história de iniciação e sacrifício atravessada por dilemas individuais, questões sociais e destinos inexoráveis, protagonizada por mensageiros xamânicos, pastores noruegueses, evangelistas indígenas, frades franciscanos, patrões e mulheres prostituídas e escravizadas.
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