“Tem o que fica e o que deságua”. Nesse movimento o poema amadurece e vem preencher as páginas desse livro, Aroeira, de Vânia Melo. As intempéries da vida da mulher, da menina e da filha, a poeta resolvem na rima e no verso que vão lhe descortinando o caminho ancestral da sabedoria. Esta chega aos poucos para conduzir a poeta no sonho e na realidade das ruas e do cotidiano, ora mágico ora doido. Talvez, por isso, nesse amalgama de possibilidades que uma mulher negra vislumbra, a escritora anuncia que prefere ser “mais poética”.
A água e a vida se completam e são uma só na sequência de uma poesia lírica e afirmativa que salta da letra para o leitor, moldurando o lastro dos poemas.
É presente as faltas nas paisagens da autora. No entanto, existem os encantos. Eles se apresentam nas viabilidades que a linguagem lhe presenteia para construir cenas nas afluências das lágrimas. Estas, a poeta faz questão de não esconder, ao contrário, elas são admitidas como via de fuga e de cura. Contudo, não são lágrimas encerradas no silencio. Este, não tem lugar na vida da poeta, tampouco no movimento da sua poética. A palavra abre uma verdadeira cruzada em cada poema para dizimar a parcimônia de todas as dores e transformar a lógica estruturante que o tecido racista oferece às mulheres negras. O amor chega, desperta, mas a voz poética confessa de onde vem a possibilidade de continuar viva: “A luta me conscientiza, me dá chance de vida, me reinicia”. Desse modo, o amor e a luta constróem o ele entre o que é vida e a mulher que
os poemas, desse livro, nos apresentam: a poeta Vânia Melo.
Jovina Souza
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