Parte do valor das vendas da versão física do livro Cartas para o Bem Viver será revertida para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB e outras associações indígenas.
Cartas para o Bem Viver é um livro de “cartas-urgentes”, como dizem Suzane Lima Costa e Rafael Xucuru-Kariri, seus organizadores. O livro é composto por cartas de indígenas e não indígenas em uma conversa inesquecível em torno de um desejo de encontro com o Bem Viver. São, ao todo, 50 cartas, algumas escritas somente com imagens, sem palavras, e assinadas por nomes como Ailton Krenak, Angela Mendes, Sônia Guajajara, Graça Graúna, Tim Ingold, Denilson Baniwa, Taquari Pataxó, Márcia Kambeba, Bianca Dias, Juvenal Payayá, Antonio Marcos Pereira, Rosinês Duarte, Stephanie Pujól, Paloma Vidal, Beth Rangel, Nego Bispo, Leonardo França, Arissana Pataxó, Milena Britto, entre outros. O livro está disponível para download gratuito em pdf.
O que motiva a organização dessas cartas segundo seus organizadores é, por meio dessas vozes, acionar gestos diversos para o passado, para o presente, para o futuro, em saudação à vida, à esperança, a reivindicações variadas em torno de uma política de ser Natureza, de ser Cidadão, de ser o Outro. O gênero carta, esta escrita tão íntima, de movimento de Um que quer chegar em Outro, quer levar muito mais do que notícias. Por esta razão, todas as cartas são inesquecíveis, elevando o ordinário e o extraordinário aos céus que acreditamos poder levantar.
Sobre os organizadores_
Suzane Lima Costa é professora do Instituto de Letras, na Universidade Federal da Bahia, Brasil, com atuação no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura (UFBA). Coordena o projeto As cartas dos povos indígenas ao Brasil (CNPq) e pesquisa cartas, retratos e biografias dos povos indígenas.
Rafael Xucuru-Kariri é cientista político, doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. Analista de Políticas Sociais do Ministério da Educação. Filho da nação Xucuru-Kariri.
Trechos das cartas
“(…)Estamos chegando ao momento do esteio do céu. Decidi, então, escrever esta carta para falar com vocês sobre o Bem Viver, para quem acredita que cantando é possível suspender o céu, para quem acredita que o modo como vivemos e o mundo onde vivemos é recriado a toda hora( …)” – Carta de Ailton Krenak para quem quer cantar para o céu.
“(…)Na verdade, pai, eu acho que aprendi mais sobre você do que com você, porque tivemos tão pouco tempo para a gente se reconectar, que depois que você se foi, bem depois, passado os traumas e dores, eu fui me aproximando dos teus companheiros e companheiras de luta e iniciei um intenso aprendizado sobre quem foi você. (…)” – Carta de Angela Mendes para Chico Mendes, seu pai.
“(…) a grande tragédia da nossa época foi termos produzido uma sociedade na qual pessoas idosas e jovens foram arremessadas em lados opostos, divididas pela geração da meia-idade que se interpõe entre elas (…)” – Carta de Tim Ingold para uma criança que está prestes a nascer.
“Esta é a segunda carta que escrevo para o Brasil (…) Eu, Sonia Bone Guajajara, como mulher indígena do povo Guajajara do Maranhão/Amazônia brasileira, atuando, sem cansar, na linha de frente, no combate à Covid-19 entre os povos indígenas, sei bem a cara do tempo de sofrimento e dor que estamos vivendo. Vivemos enfrentando as doenças que os brancos nos impõem. (…) E somos sempre nós, Brasil, os indígenas, aqueles que mais morrem, que mais sofrem, que mais perdem. A colonização ainda não acabou: suas práticas estão vivas e nossos corpos são usados como exemplo, todos os dias.” – Carta de Sonia Guajajara para o Brasil.
Trecho da apresentação_
“Este é um livro de cartas e de urgências. Uma coletânea de cartas-urgentes para falar, estar ou inventar um porvir do Bem Viver entre nós. Cartas escritas não só para promover o encontro entre um remetente e um destinatário, um espaço entre dois, como pensou Grassi, mas para pôr em movimento um território de/para muitos, um encontro de coletivos. Se os gêneros de correio são em si modos sociais de garantir nossas conversas diárias, nossos encontros, uma carta-urgente para o Bem Viver é uma convocação especial para dizer das emergências do tempo presente, para um entendimento do que é estar pessoa singular na vida coletiva, do que é fazer da beleza conflituosa das conversações um lugar ativo de experimentos de si e de partilhas com os outros.Essas conversações perguntam pela força de nosso corpo diante das micro/macros barbáries cotidianas, perguntam como se vive uma boa vida, criativa e criadora – Teko nhe’ẽ porã: a vida sem mal, dos ensinamentos Kaiowá e Guarani ou a vida do fazer artístico delicado do Shien Pujut, dos Awajún – cosmovisões indígenas que, somadas à definição Quéchua do Sumak Kawsay, nos aproximam de uma definição do que pode ser imaginar uma vida bonita. As cartas desta coletânea ativam esses afetos em projeções e críticas dos sentidos e dos rumos do Bem Viver na vida capital que levamos.” – Suzane Lima Costa e Rafael Xucuru-Kariri
Quem assina as cartas e para quem_
Ailton Krenak para quem quer cantar e dançar para o céu
Sonia Guajajara para o Brasil
Gersem Baniwa para as pessoas que sonham um outro Brasil
Juvenal Payayá para o cacique Sacambuasu
Graça Graúna para os ancestrais
Márcia Kambeba para sua avó Assunta
Denilson Baniwa para o parente que vive na Terra Indígena Marte
Rafael Xucuru-Kariri para Apoena, seu filho
Jerry Matalawê para Agnaldo Pataxó Hãhãhãe
José Carlos Tupinambá para as lideranças
Taquari Pataxó para os brasileiros
Eloá Kastelic e Rosenilda Luciano para a sociedade não indígena
Angela Mendes para Chico Mendes, seu pai
Rubelise da Cunha para Ailton Krenak
Bianca Dias para Caetano Veloso
Cristina Araripe Fernandes para Estamira
John Antón Sánchez para Michelle Bachelet
Aparecida Vilaça para Paletó OroNao’ (Watakao’ Oromixik)
Fábio Merladet para Rafael Xucuru-Kariri
Ricardo Piera Chacón para Elicura Chihuailaf
Milena Britto para seus parentes
Rosinês Duarte para Eva, sua filha
Mara Vanessa para Iara e Maria Rita, suas filhas
Deise Queiroz para Pérola, sua alma vibrante
Thaiane Pinheiro para Maria Alda, sua avó
Tim Ingold para uma criança que está prestes a nascer
Bernd Reiter para os não-indígenas
Stéphane Pujol para “o outro”
Paloma Vidal para Carmen
Arami Marschner para sua Oma
Josiley Francisco de Souza para você
Antonio Marcos Pereira para A.
Alexandre San Goes para Alexandra
Joseane Maytê Sousa para o tempo
Suzane Lima Costa para quem ainda escreve cartas
Irene Maria para os professores indígenas
Joseli dos Reis Querino para os professores de Língua Portuguesa
Luciene Azevedo para seus alunos de Literatura
Fernanda Mota Pereira para as professoras de língua estrangeira em escola pública
Roberto Sobral para os que ainda se encontrarem pelo Ministério da Educação
Maria Rosário de Carvalho para um amigo
Nego Bispo para a geração neta afrodescendente e afrodiaspórica
Diosmar Filho para o Quilombismo
Kandya Obezo Casseres para a Presidenta eleita da Colômbia
Beth Rangel para os pequenos e grandes jovens
Alvanita Almeida Santos para as Deusas
Ramon Fontes para as nossas ancestrais infectadas
Felipe Milanez para os brancos
Amanda Marina Batista para o Bem Viver
Leandro Durazzo para o futuro
…
Parte do valor das vendas da versão física do livro Cartas para o Bem Viver será revertida para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB e outras associações indígenas.
O livro também está disponível para baixar gratuitamente neste link: http://www.livrariabotocorderosa.com/index.php/2021/04/20/cartas-para-o-bem-viver/
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